06 a 08 de junho de 2017 - Faculdade de Letras da UFRJ

Apresentação

Mudanças de paradigmas nos ordenamentos simbólicos tradicionais e estabelecidos anunciavam-se no passado com frequência no bojo de processos políticos marcados por rupturas e por traumas em diversas esferas da vida social, política e econômica. Nas últimas décadas, entretanto, tem-se observado um processo de globalização acelerada no qual a comunicação humana, infinitamente ampliada pelo extenso e rápido desenvolvimento de tecnologias eletrônicas e digitais, promoveu um contato entre culturas em escala inédita, que ultrapassa em muito aquele possibilitado pelas novas tecnologias nos meios de transporte que se desenvolveram aceleradamente a partir do início do século XIX. Este contato evidenciou um drástico contraste entre paradigmas civilizatórios, que anteriormente concretizavam-se discursivamente de modo frequentemente maniqueísta, com o qual se coagulavam, de um lado, posições pretensamente “ocidentais” e “vanguardistas”, emanadas dos grandes centros do poder econômico, político e tecnológico, e de outro posições “orientais” e “retrógradas”, normalmente associadas a nações – e, em seu interior, de forma semelhante, às regiões – periféricas e distantes dos centros de decisão.

Desta forma, alguns dos paradigmas fundamentais que norteavam as construções simbólicas de modelos civilizatórios foram substituídos rápida, mas silenciosamente, por outros muito diferentes, sem que isso tenha implicado “choques de civilizações” e guerras. Valores, culturas e formas de sociabilidade antes tidas como “pretéritas” passaram rapidamente a se revestir de grande interesse para uma modernidade tecnológica, política e culturalmente afundada em crises profundas. Novos sentidos têm-se emprestado à ecologia, à sustentabilidade tecnológica e às experiências culturais milenares.

No Brasil, temos vivido intensamente esse mesmo processo. Entre os diversos contrastes de paradigmas civilizatórios, certamente o mais notável situa-se no coração do debate sobre a região amazônica e suas populações. Esta região, fartamente encenada nos hoje sofisticados meios de comunicação, finalmente impõe-se, com sua força e exuberância, ao cotidiano de populações “centrais” que, ao encararem as sociabilidades amazônicas, outrora “periféricas”, percebem com surpresa que se encontram diante de uma grandeza que nunca coube no discurso monoglota de uma civilização brasileira, mas que antes encerra uma realidade multicultural, multilinguística, e, por conseguinte, multicivilizatória e policêntrica, ainda que encerrada em território nacional brasileiro.

O evento ora proposto reúne professores que têm consciência plena desse processo de mudanças simbólicas e linguísticas, e se dispõem ao debate de algumas de suas causas profundas, de muitas de suas consequências discursivas. Este evento, portanto, reveste-se de grande relevância como estímulo à discussão a que ora se propõe pioneiramente. Temos a expectativa que esta discussão sirva de norte inicial para que docentes, estudantes e comunidade envolvidos em sua organização e realização promovam a partir de agora de forma sistemática e fortalecida a cooperação e o intercâmbio acadêmicos entre instituições da região norte e sudeste em nossos campos disciplinares específicos e interdisciplinares de forma ampla. A consciência desta expectativa de colaboração e intercâmbio expressa-se desde já na composição da Comissão Científica do evento, composta essencialmente por professores da Faculdade de Letras da UFRJ, sede do evento, e de professores de universidades e centros de pesquisas amazônicas.

Organização
 
    


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